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[Lendo Shakespeare] Como Gostais / Conto de Inverno

by - quinta-feira, janeiro 26, 2017


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Dando continuidade para o projeto #LendoShakespeare, para o mês de Janeiro escolhi outra peça que eu até então pouco conhecia - uma não, mas duas: Como Gostais (As You Like It) escrita entre os anos de 1599 e 1600 e Conto de Inverno (The Winter's Tale) datada entre 1610 e 1611. 

Como Gostais

Cena do duelo de Como Gostais por Francis Hayman. Óleo sobre tela - 1750. 

A peça é uma comédia romântica pastoral que se passa na França centrada na personagem Rosalinda, filha do Duque Sênior que foi exilado na Floresta de Arden pelo seu irmão Frederick que usurpa o seu lugar. Rosalinda, por sua vez, permance na corte do tio a pedido de sua prima Célia. Ao mesmo tempo, Orlando um nobre rapaz do reino, se apaixona por Rosalinda, mas é obrigado a fugir de casa após as ameaças do irmão mais velho Oliver indo para a Floresta de Arden. Enquanto isso, o duque Frederick se enfurece e bane Rosalinda da corte e Célia a acompanha no exílio.

Um fato muito curioso sobre essa peça é imaginar o quanto deve ter sido engraçado para os telespectadores da época ver a personagem Rosalinda se passando por um rapaz durante sua fuga para o exílio, já que na época os garotos faziam o papel das mulheres. Durante a leitura é um pouco difícil de imginar, já que pelo formato há poucas indicações a respeito se ela estava sendo ela mesma ou seu disfarce como Ganimedes. 

Ela e Orlando são o casal principal da peça, e apesar de não terem se tornado um dos meus favoritos como Miranda e Fernando da tragicomédia A Tempestade, o casal encara as próprias dúvidas de Rosalinda quanto a sinceridade de Orlando e usa do disfarce de Ganimedes para testar o rapaz. 

Creio que seja uma das peças com maior número de personagens e tramas paralelas de Shakespeare, com o bobo da corte mais inusitado e inteligente que já conheci, Touchstone. Sarcástico e perspicaz, o bobo rouba a cena em vários momentos. Há diversos diálogos inteligentemente engraçados e bonitos monólogos da Rosalinda e foi a primeira peça shakesperiana que eu tive contato com um pequeno epílogo no final. 

Conto de Inverno

Florizel e Perdita. Gravura por Charles Robert Leslie (1837)

Conto de Inverno foi sem sombra de dúvidas a minha peça favorita do livro. Assim como a primeira, esta eu também não conhecia, porém nas primeiras cenas do Ato I eu já me encantei pela história, porque a trama tem uma característia marcante de uma história de amor com o final feliz (ao contrário de Romeu e Julieta que é pura tragédia do começo ao fim).

A peça se inicia com o rei Leontes da Sicília cego de ciúmes do seu amigo Políxenes, rei da Boêmia com a esposa do primeiro, a rainha Hermione. O ciúme doentio de Leontes leva o filho primogênito do casal à morte, assim como a própria Hermione depois de dar a luz a sua segunda filha, a princesa Perdita. Leontes, em sua fúria, mandar abandonar a princesa na Boêmia e a pequenina é encontrada por um simples pastor e seu filho e é criada como membro da família. Anos depois, o príncipe Florizel, filho de Políxenes, se apaixona pela jovem, e a uniã dos dois desenterra o passado da princesa. 

A história inicia-se de maneira obscura e trágica caracterizando de forma muito poética o inverno que passa os personagens principais, principalmente o caminho de perdição do ciúme de Leontes que lembra também Otelo, com a diferença que o ciúme do rei foi criado por ele mesmo. Chegando no fim da peça, as atitudes do rei Políxenes quase acalentam numa segunda tragédia, se não fosse, o que para mim eu considero um dos heróis da peça, o lorde Camilo e a inteligência da outra heroína da peça, a serviçal da rainha Hermione, Paulina. 

A influência da mitologia grega é bem vidente na peça, com os oráculos de Apolo sendo consultado e uma profecia cruel se tornando realidade, que transforma a vida dos personagens principais para smepre. 

Particularmente o final foi o que mais me surpreendeu, porque eu não imaginava e nem suspeitava da revelação no final da peça. A primavera finalmente chega depois de um longo e doloroso inverno de mal entendidos e catástrofes, sendo de uma intensidade emocional tal que os pormenores do final não são nem os personagens principais que narram, mas sim personagens secundários. 

Conto de Inverno, ao contrário das outras peças mais famosas do Bardo, não foi muito encenada (a última apresentação foi em 1634, sendo apresentada de novo somente em 1742) e de fato, ela não é tão conhecida quantos as tragédias e comédias, mas é uma das tramas shakesperianas mais emocionates. 


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