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[Opinião] Em defesa das histórias de amor e do clichê na ficção

by - sábado, março 11, 2017

Faramir e Éowyn em O Senhor dos Anéis - O Retorno do Rei (2003)

Eu deveria estar escrevendo outras coisas neste momento, mas forças maiores fizeram com que eu viesse desabafar um pouco sobre um "fenômeno" que anda ocorrendo há bastante tempo entre leitores (as): o ataque aos romances com histórias de amor e clichês na ficção.

Antes de eu entrar na questão propriamente dita, devo lembrar que sim cada um tem o seu gosto seja para livro, cinema ou qualquer outra arte e que cada gênero possui o seu público específico, com gostos e sub-gêneros distintos em uma mesma cateogoria. O que eu pontuo aqui é algo que sempre me incomodou em resenhas, sejam em blogs por aí à fora, no Skoob, Goodreads ou outras redes sociais. São coisas que eu achava que eram algo da minha cabeça, mas depois de refletir vi que não, que é algo comum e padronizado em resenhas e que infelizmente, eu não concordo com tais posições.

O romance com casais centrais e histórias de amor sempre foram um gênero que esteve em alta e com um grande público. Não é surpresa encontrar títulos nas listas de mais vendidos tanto no Brasil quanto no exterior, provando o que todo mundo sabe: há leitores que gostam e compram livros desse segmento. 

Mas não é somente nos livros de romance que uma história de amor pode estar presente. Em um livro de aventura, suspense, sci-fi, terror, etc. às vezes você pode se deparar com um casal e uma história de amor, podendo ser um enredo secundário ou até mesmo um que se interligue à trama principal. 

Eu compreendo que muita gente não gosta quando isso acontece por vários motivos. Porém ter uma história de amor ou um casal inesperado se formando no meio de qualquer livro não é desmérito para nenhuma obra desde que seja bem feita - como eu sempre gosto de deixar claro nas minhas resenhas. A mesma coisa para o clichê, é legal e importante quando é bem usado e explorado pelo autor (a) e não há nada de errado nisso.

O que eu percebo é que sempre que existe um casal ou clichê em um livro de ficção, principalmente a fantasia, há um tratamento de torcer o nariz vindo de resenhistas que eu não consigo entender o por quê disso. Não sei se as pessoas não estão sendo muito claras na hora de escrever ou eu é quem não estou compreendendo a coisa toda, mas me incomoda muito que romance e o clichê são argumentos para se classificar um livro como bom ou ruim. 

Se o resenhista der boas razões para dizer que o livro é ruim por esses dois motivos, aí a história é outra. Contudo, não é o que acontece na maioria das resenhas dos blogs - e são muitas que eu já encontrei que não argumentam do por quê do romance e do clichê no livro X serem os pontos fracos. Eu já fui adepta dessa ideia, porém conforme o tempo foi passando e fui amadurecendo, percebi que é uma visão injusta e não há como você, seja como leitor ou escritor, fugir de fórmulas já existentes.

Já vi coisas do tipo "ah o livro tal é bom porque não tem romance e clichê". Hum espera, quer dizer que se um livro de fantasia tiver tais atributos é ruim? Qual é o problema se o autor resolver explorar uma subtrama (bem feita) de história de amor com os clichês típicos do gênero? Se é bem feito, bem estruturado e necessário, não é ruim, certo? Já aconteceu de eu me deparar com livros de fantasia com romance e clichê, mas que não foram felizes nisso (Tempest, por exemplo). 

Mas foram muitos os livros do gênero que eu peguei com histórias de amor maravilhosas, que se entrelaçam ao enredo principal e que me fizeram torcer, não só pelos personagens de forma separada, mas também pelo casal - Percy e Annabeth da série Percy Jackson e os Olimpianos é o melhor exemplo dessa situação. Poderia citar também Clare e Chris de Shada, Éowyn e Faramir em O Senhor dos Anéis, Katniss e Petra em Jogos Vorazes, dentre outros. 

Claro que a fantasia também é um gênero que passa por uma época que fica saturada - vulgo os romances vampirescos que surgiram depois de Crepúsculo - sub-gênero que a galera adora atacar, muitas vezes por modismo do que por ter uma opinião bem embasada. 

As histórias de amor e os clichês que as acompanham são universais. Sempre vai existir porque é de origem humana e o ser humano não é original boa parte do tempo. As rotinas do dia a dia e as situações que passamos no nosso cotidiano, por mais estranhas e incomuns que possam parecer, com certeza já aconteceu com outra pessoa em algum momento do tempo e da história - a não ser histórias de assombrações e de bêbado, que sempre são uma mais bizarra do que a outra haha. 

Somos únicos, ao mesmo tempo que não somos. Esse é o paradoxo da vida e como a vida imita a arte, a literatura, o cinema, a TV e o teatro sempre vão contar e recontar como o príncipe salvou a princesa do dragão cuspidor de fogo, como o mocinho acabou se apaixonando pela colega de trabalho durante uma investigação criminal, ou como a mocinha que sobrevive numa resistência totalitária se apaixonou pelo melhor amigo. 

Se a literatura e arte em si não refletirem o que há de mais humano e inerente em nós, como ela vai sobreviver? De quê? A originalidade é somente a forma como ela vem embalada, mas a essência é a mesma, repetida tantas vezes. Saindo do âmbito fantástico, quantos Romeus e Julietas já não morreram em todos esses séculos? Quantos Hamlets não precisaram tramar o assassinato do tio usurpador? Ainda sim, nunca nos cansamos desses arquétipos, por mais que para parecer mais cult dizemos o contrário. 

Ps: Antes que me acusem dizendo que Shakespeare não escreveu fantasia, leiam Sonho de uma Noite de Verão ;)




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2 comentários

  1. Oi, Ju!
    Adorei seu texto! E amo Sonhos de uma noite de verão.
    Realmente anda tendo uma onda de ataque a clichês que não sei de onde vem todo esse ódio. Eu sou muito adepta do clichê, principalmente em romances. Aquele casal amiguinho que descobre um sentimento a mais, casal que não é casal mas finge ser casal ou casais gato-e-rato.. Amo amo amo!
    Na fantasia já é um pouco mais complicado porque depende de como o autor desenvolve. Hoje em dia já tem tanta história é difícil achar uma que não tenha pelo menos um clichê. Se a pessoa focou somente nesse detalhe, eu digo que ela leu super errado e deveria ler de novo.
    Mais uma vez, um ótimo texto!
    Beijos
    Balaio de Babados

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    1. Oi Luíza, concordo plenamente com você. Adoro clichês, vira e mexe e gosto de pegar um livro mais clichezinho para distrair a mente e acho ótimo, não vejo problemas nisso como algumas pessoas que parece que tem neurose com a coisa kkk. É impossível fugir de formas prontas e falo isso tbm porque eu escrevo. Na fantasia depende mesmo se o autor sabe desenvolver o clichê e o romance direito, do contrário, estraga a história.

      Abraços!

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