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Embracing Edith Stein: Ensaio Teológico sobre a Verdadeira Feminilidade

by - quarta-feira, janeiro 10, 2018


Quando completei vinte anos, achei que havia entendido o que significava ser mulher. A juventude e a pouca experiência de vida, além de terceiros e a mídia haviam me ensinado que ser mulher era ter uma carreira de grande sucesso, muito dinheiro, beleza e alguns homens aos seus pés. Ter uma família ou servir ao outro eram coisas estranhas aos meus ouvidos. Possui uma resistência aos ensinamentos da Igreja Católica que eu nem ao menos tinha ciência.

A imagem vendida no mundo de hoje do que significa ser mulher é uma plastificação barata, da mais estapafúrdia que já inventaram. Essa conclusão eu cheguei há mais ou menos dois anos. Daí em diante, procurei entender o que acontece com as mulheres em geral neste século. A leitura de The Flipside of Feminism da Susane Venker foi de grande ajuda para compreender o formato do mundo atual, além dos ensaios de Chesterton sobre mar de confusão no qual nos encontramos.

Quem disser que a mulher comum do século XXI é feliz e satisfeita, é um mentiroso de primeira classe que merece uns petelecos no cérebro. Essa infelicidade e insatisfação da mulher contemporânea reflete também nos homens, na família e em toda a sociedade no geral. As feministas dizem que a resolução para esse problema é mais direitos, mais passadinhas de mão na cabeça, mais papinha na boca para as mulheres enfim, serem obrigadas a serem felizes dessa forma oca. Mas é uma outra desonestidade estapafúrdia e ridícula que se seria engraçada, se não fosse trágica.

A tragédia feminina no Gênesis, que se reflete até os nossos dias, mas em especial do século XX para cá, não encontrará solução em leis e campanhas toscas de internet, que chega até dar uma vergonha alheia. Essa tragédia é o reflexo do afastamento do Verbo, pois como diria Chesterton, quem deixa de acreditar em Deus passa a acreditar em qualquer coisa. E acrescento que é qualquer coisa mesmo.

O que é essa tragédia? O pecado no Éden distorceu a visão humana, em especial entre homens e mulheres. O amor que era característico dos nossos primeiros pais antes do surgimento do mal, foi corrompido de tal forma, que foi necessário a descida do Verbo para reparar o problema. Ainda sim, a humanidade se recusa a abraçar a redenção divina, e não teve quem mais sofresse com essa cegueira espiritual do que a mulher. Com surgimento do Cristianismo tivemos mulheres esplendorosas como Santa Teresa D' Ávila e uma Santa Catarina de Sena, mas ainda sim os efeitos da tragédia se refletem, em especial no nosso tempo.

No fim da Primeira Guerra em um mundo incerto e cinzento, surge uma jovem filósofa alemã  e judia de nome Edith Theresa Hedwing Stein que estava numa busca peculiar: a moça queria encontrar a Verdade. Determinada, deixou a fé de sua família e embarcou em uma jornada intelectual nessa busca que lhe tirava o sono dia e noite. Foi secretária de um filósofo importante de nome Edmund Husserl, pai da fenomenologia* que influenciou a obra da jovem Edith. Ela já demonstrava uma aptidão filosófica admirável, porém ainda não era o suficiente.

O reencontro com um velho amigo católico deixa Edith admirada e confusa a respeito da fé daquele homem. Era algo completamente novo para ela a forma amorosa daquele amigo ao entrar numa igreja e de como ele via o sofrimento. Quando durante a estadia na casa de um casal de amigos, a jovem Edith se depara com o Livro da Vida, da citada Santa Teresa D'Ávila, a jornada daquela moça mudaria para sempre. Ela encontrou a Verdade, finalmente.

Passado alguns poucos anos, deixou uma vida de prestígio acadêmico para trás para se enclausurar no Carmelo numa vida simples e regrada, no auge da perseguição nazista aos judeus. O amor de Edith Stein, agora Santa Teresa Benedita da Cruz, pelo Cristo e pela cruz como dizia seu nome carmelita, era tamanho que de forma heróica, a religiosa abraçou sua própria cruz. 

Em 02 de Agosto de 1942, Santa Edith Stein foi presa pelas autoridades alemãs na Holanda, onde ela e a irmã Rosa estavam escondidas. A perseguição aos judeus convertidos ao catolicismo romano era ferrenho pelo governo do Führer devido a condenação do Papa Pio XII ao regime alemão do período na sua encíclica Mit Brennender Sorge de 1937, que causou um reboliço no país. A clara resistência da Igreja Católica na Alemanha de ceder às autoridades locais desde o episódio, agravou a situação dos católicos e especialmente dos judeus convertidos à fé de Roma. 

Na manhã do dia 07 de Agosto de 1942, Santa Edith deixou o campo de concentração de Westerbork e foi deportada para o o campo de concentração de Auschwitz. No dia 09 do mesmo mês, a carmelita descalça e diversos outros prisioneiros foram mortos nas câmaras de gás.

Os seus companheiros como relatado no livro Embracing Edith Stein: Wisdom for Women from Santa Teresa Benedict of the Cross da autora Anne Costa, diziam que em nenhum momento minha agora amiga Edith reclamou ou chorou enquanto estava presa. Pelo contrário, tentou aliviar os sofrimento das crianças e mães que estavam junto dela, auxiliando-as no que podia. Havia uma serenidade no seu olhar que era incompreensível, um amor refletido em seus olhos nos seus últimos dias de vida que não é possível entender.

Para compreender, a autora nos introduz no pensamento da mártir a respeito da vocação feminina que é muito simples: amar para servir. Para isso era necessário que todos mulher desistisse de si mesma e se submetesse completamente ao Cristo. Todo cristão é chamado a isso, verdade, mas Santa Edith acreditava que a mulher tinha um chamado único e especial para essa rendição.

Palavras difíceis de escutar e engolir no mundo de hoje, não concorda leitor? Mas acontece que o projeto divino transcende o tempo e as modernidades. Nossos pensamentos e modelos modernos devem soar ridículos aos ouvidos de Deus, que enxerga além do tempo e espaço. Santa Edith compreendeu muito bem isso. Todas as ninharias de poder e status vendidos para a mulher de hoje, a nossa maçã envenenada, são pó diante do tamanho da vocação feminina sonhada pelo Criador desde o princípio.

Somos co-criadoras tal como Ele é a partir do momento que assumirmos a maternidade que há em cada um de nós, não importando se é casada ou solteira. Uma mulher madura é aquela que é mãe. A maternidade pode ser a biológica e espiritual, não é necessário passar pelo parto para nutrir vidas. 

Pensem: quantos hoje têm mãe, uma família, mas não são amados? Não tem o afago de uma mulher que vai aconselhar e corrigir; são órfãos de mães vivas que abandonaram a sublime missão de servir sua família, seu maior bem, por trinta moedas de prata. É o que mundo oferece em troca da vocação feminina não ser vivida aqui nesta vida.

Até os vinte e três anos, eu achava que as trinta moedas de prata do sucesso acadêmico fossem o meu troféu da vitória. Eu sendo a tola que fui, mas que agora estou tentando melhorar minha burrice, achava que o meu lado maternal não era de nenhuma serventia; que a minha sensibilidade era ruim, que os meus sentimentos eram um sinal de fraqueza. Conseguiram distorcer a minha vocação a tal ponto de eu me fechar em um mundo egoísta, tornando minha vida triste e sem brilho. 

Mas Santa Edith diz que a vocação feminina (o feminine genius) precisa ser vivida em todos os âmbitos sociais que a mulher estiver presente, incluindo o trabalho. Não é necessário sacrificar a natureza para ser o que não é.

Alice von Hildebrand nos seus escritos sobre a mulher, diz que a fraqueza pode ser um sinal de humildade perante o Criador. Santa Edith vai nos dizer que os sentimentos femininos são necessários para que os homens não se percam em abstrações que não levam a lugar nenhum. É um forma de humanizá-los, mas que precisam ser purificados pelo Cristo, assim como toda a tendência de ser dominada por sentimentos ruins, e pela constância de querer saber tudo sobre as pessoas. Reconhecer esses problemas é ser honesta em admitir que graças a Deus, não somos iguais aos homens.


A vida se torna muito mais doce quando deixamos as coisas universais serem tais como são. A liberdade que Santa Edith encontrou quando virou carmelita trouxe também paz ao seu coração que vivia inquieto. A doçura e coragem de como enfrentou o martírio foram frutos da humildade que adquiriu quando sua feminilidade foi submetida e purificada pelo Cristo, culminando na imitação da mulher que mais amou o Deus Filho e o modelo mais perfeito de mulher que existe, a Virgem Maria.

O legado de Santa Edith e sua história é o brilho de uma vela num mundo que anda nas trevas desde as duas grandes guerras e revoluções. Ela influenciou os trabalhos teológicos do Papa São João Paulo II a respeito da mulher que até hoje repercutem na Igreja e no meios acadêmicos. Muito mais que os seus ensaios, o testemunho de vida de Edith Stein para o mundo é uma força capaz de mover os corações, em especial aos das mulheres, que tanto educou e ensinou enquanto professora amorosa.

Em tempos de loucura coletiva, Deus jamais abandona seus filhos e sempre envia os Seus santos como remédio para a ignorância. A vocação feminina pregada por Santa Edith é universal e transcendental, é um verdadeiro projeto de vida - esta que ganha muito mais brilho e sentido quando é movida pelo amor de servir até a cruz.

We need women who dedicate their lives to the purpose of educating youth, women who are fully aware of the teachings of the faith, and of its historical background. Their intent will be to form a generation which is happy in faith and strong in spirit.



*Explicando de uma forma simplória, Husserl acreditava que os objetos e a realidade deveriam ser estudados tal como eles se apresentam, para daí em diante aplicar uma verdade geral, o que era completamente diferente da filosofia kantiana e descartiana que predominava no mundo.

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