Resenha: O Morro dos Ventos Uivantes (Wuthering Heights) - Emily Brontë

by - quarta-feira, dezembro 29, 2010



Grande clássico da literatura britânica, O Morro dos Ventos Uivantes (Wuthering Heights) é o único romance da autora Emily Brontë publicado em 1847. A história se passa em Yorkshire, apesar do livro não dizer isto, nas fazendas de Thrushcross Grange ou Granja dos Tordos e Wuthering Heights, onde neste cenário nasce o romance de Catherine Earnshaw e Heathcliff. Ele foi trazido para o ceio na família Earnshaw pelo pai de Cathy, com os dois ainda criança. Não se sabe a origem exata do garoto e muito menos seu nome verdadeiro. A paixão nasce entre eles, porém são cruelmente separados pelo destino, deixando um rastro de ódio e vingança que marcarão suas vidas.

Essa edição da editora Lua de Papel é a terceira que eu leio, e na minha opinião a mais bem traduzida.

Antes de mais nada, Wuthering Heights é uma história de amor que se entrelaça entre ódio e vingança, principalmente na figura de Heathcliff. O que move a história são os sentimentos intensos dos três personagens principais, o terceiro no caso seria Edgar Linton, contados pela testemunha e fiel empregada, Ellen "Nelly" Dean.

Vou me esforçar para não soltar algum spoiler significativo do enredo, expondo de forma clara algumas das conclusões que eu cheguei nesta releitura.

A primeira vez que eu li Wuthering Heights não tive a oportunidade de prestar atenção em importantes detalhes, de tão concentrada que estava nos fatos da história para o entendimento. Confesso que na primeira leitura deixei muitas observações escaparem e até não entendi certos momentos da história. A segunda leitura foi para o reforço da primeira, na questão do desenrolar do enredo, mais uma vez ignorando detalhes importantes, infelizmente. Foi somente na terceira leitura que eu consegui, não só entender o enredo plenamente mas também prestar atenção em detalhes que eu deixei de lado  nas duas leituras anteriores. Muitos que estão lendo isto, que já leram o romance devem estar pensando que eu sou lerda e desatenta. Defendo-me dizendo que Wuthering Heights é um romance complexo demais para ser entendido e apreciado em apenas uma leitura, assim como outras grandes romances. Meu conselho para que estiver ainda com o conceitos a meu respeito citados acima, inabaláveis, é que repensem se realmente apreciaram o estilo de escrita, as observações e toda a filosofia do livro, ou simplesmente usufruiu do "bagaço da laranja" como diria meu velho professor de Literatura, apenas preocupado com o o vai-e-vem das personagens, sem prestar atenção no modo como a história é contada. Uma pequena alfinetada a quem se preze especialista em literatura, o que eu não sou, só esclarecendo, mas já vi muitos por aí que acham que são. Em fim...

A partir desta releitura, pude observar o centro em que se move os fatos do romance e a vida das personagens; não é um, mas sim dois: os sentimentos (que inclui também os caracteres de cada personagem) e O Morro dos Ventos Uivantes (o local melhor dizendo). 

O primeiro é mais nítido de perceber assim que conhecemos os protagonistas da história, Cathy Earnshaw, Heathcliff e Edgar Linton. Cathy eu diria que ela é o centro destes três elementos com um grande poder de manipulação em cada um deles, movida ao seu egoísmo sem fim. No entanto, este modo de agir egoísta é mais favorável Heathcliff do que para Edgar, este de natureza passiva. Sinceramente, são poucas as passagens em que Cathy demonstra algum tipo de afeição mais aprofundada por Edgar, e quando tem eu diria que é um carinho artificial demais. Agora com Heathcliff é totalmente o oposto. Quem não se lembra daquele passagem célebre onde Cathy diz "Eu sou Heathcliff" e tantas outras? Aí fica claro que o amor entre os dois é forte demais e inexplicável. Em relação a este, dos três ele é o mais movido pelos impulsos humanos de uma forma exagerada; ele ama e odeia intensamente sem meio termo, o que o torna dos três protagonistas, o mais misterioso, interessante e cheio de complexidades. Considero Heathcliff um dos personagens mais bem elaborados de toda a Literatura! Posso estar sendo exagerada nesta afirmação e não sendo imparcial, mas eu tenho um fascínio muito grande por esta personagem, e até posso tomar a liberdade de comparar a sua complexidade com Capitu do aclamado romance Dom Casmurro, de Machado Assis. Agora, o que deve ser deixado bem claro é que em Wuthering Heights não há distinção de personagens bons e maus. Talvez a única que eu consideraria bem caracterizada nesta questão seria a sr. Dean. Apesar de Edgar Linton ter uma natureza submissa, o que me incomoda é a sua alienação e egocentrismo em algum momento de confronto com os outros dois personagens (Cathy e Heathcliff), tirando esta falha de caráter, que eu digo que é uma consequência da convivência com eles, Edgar Linton é um bom homem no final das contas.

Na questão que eu levantei sobre o Morro dos Ventos Uivantes ser também é um personagem, é relacionado ao fato de tudo impelir e se desenrolar naquela casa sombria. Este tipo de personagem é considerado inanimado, por não ser um ser vivo ( só para deixar claro  apesar da redundância). Já tive também o privilégio de dar cara com este tipo de personagem no romance "O Iluminado" (The Shining) de Stephen King; o hotel Overlook onde se desenrola a história é um personagem! (muito malvado por sinal rs). Mas ao contrário do citado personagem que fica muito bem caracterizado, o Morro é aquilo o que seus habitantes são. Parece bem óbvio, porém para quem leu ficou bem claro, para quem não leu só posso dizer para observar bem a sua casa e ver se não é parecida com seus moradores...

Assim como o citado Dom Casmurro, Wuthering Heights também deixa os seus buracos de dúvidas, principalmente na pessoa de Heathcliff e Cathy, devido ao artifício de narração. A narradora-personagem da história, Nelly Dean contava os fatos expressando suas opiniões ao ouvinte, o sr. Lockwood que no final das contas também não ficou imparcial devidas as primeiras impressões com os moradores do Morro, o que deixa o leitor com a pulga atrás da orelha, e até frustrado por não ter conhecimento do que se passa no coração de cada personagem, a não ser aqueles de conhecimento da sra. Dean. Eu gostaria muito que a narração também tivesse sido feita de forma onisciência, mesmo se perdesse o encanto.

Finalizo apenas indicando este belo romance a todos que estiverem lendo, sem antes avisar que é preciso bastante maturidade literária e bom vocabulário para apreciar dignamente O Morro dos Ventos Uivantes.





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6 comentários

  1. Lieh
    Depois de ler esta resenha tenho absoluta certeza que preciso reler este livro. Quando li esta obra, a muito anos atrás, devo ter perdido muito do conteúdo dela, visto que não está nem longe de ser um dos meus livros prediletos. Mas alguns livros precisam de uma certa maturidade para serem lidos, e com certeza, na época em que o li, ainda não a tinha.
    um abraço
    Gisela - Ler para Divertir

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  2. Concordo plenamente com você, Gisela. Quando eu li pela primeira vez, eu também não tive uma impressão favorável... Mas depois da segunda releitura, O Morro dos Ventos Uivantes passou a ser um dos meus livros favoritos.

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  3. Concordo plenamente com você, Gisela. Quando eu li pela primeira vez, eu também não tive uma impressão favorável... Mas depois da segunda releitura, O Morro dos Ventos Uivantes passou a ser um dos meus livros favoritos.

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  4. Heathcliff, it's me, I'm Cathy, I've come home

    I'm so cold, let me in in-a-your-window

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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